terça-feira, 25 de maio de 2010

Uma certa campanha eleitoral... [3]


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Outros textos do Último Foco de Resistência
Crítica-crítica
(25 de abril de 2006)

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Gritou-se por aí que a nossa crítica é só crítica, ou crítica pela crítica, ou crítica-crítica, enquanto a de outros seria uma crítica que é crítica prática ou prática crítica. Fazemos sim uma crítica crítica à prática crítica que criticamos por esta crítica prática praticamente praticar uma crítica que, na prática, não atinge o que há de substancialmente crítico nas práticas políticas do ocidente moderno, reproduzidas através de todas suas esferas de poder, dos grandes Estados aos centros acadêmicos. Praticamos uma crítica que critica o uso de jargões vazios e impensados em prol de um jogo político de interesses mesquinhos, conforme o praticado acriticamente até então. Nossa crítica não provém, porém, de fontes meramente abstratas ou ideais, mas sim de nossa prática que se iniciou nesta graduação com a mais notável greve estudantil do passado recente. Certamente criticável, tratou-se de resposta prática a uma situação crítica. Desde então desenvolvemos críticas aos processos práticos que visamos hoje restaurar numa prática que não subordine a crítica à praticidade pragmática e funcional, quando não burra simplesmente corrupta.
Deu pra entender praticamente tudo? Alguma crítica?
Ótimo, pode falar, é pra isso que estamos todos aqui.
Mas, por favor, não precisa gritar que ninguém aqui é surdo.
CAHIS 2006 – Convencimento de princípio dialético-negativo:
Que tal votar em quem não grita, não arranca cartaz, não ganha comissão encima da indústria de papel kraft, não acha o Gilberto Gil um líder modelar, não segue o “Manual do bom gerente” do Delfim Neto, nem pensa que “democracia do Cahis” venha a ser um conceito com validade epistemológica.
Ultimo Foco de Resistência – porque a ditadura ainda está lá fora.




O Balanço do CAHIS – O Último Foco de Resistência
(agosto de 2006)
O balanço é um brinquedo dos mais divertidos. Em geral ele é composto por hastes metálicas fincadas ao chão, onde são presas correntes que sustentam uma pequena tábua. A diversão consiste em sentar-se na tábua e movimentar o corpo para frente e para trás, de modo que a criança se sinta voando, livre, sem que precise sair do lugar.
A brincadeira pode ser perigosa, a depender do estado de conservação e do desgaste já sofrido pela estrutura. Comporta certo perigo, também, no caso de a criança tomar impulso demais, ou ainda, utilizar o brinquedo de forma inadequada – em pé, por exemplo. Esse tipo de utilização é comum, já que esta é uma brincadeira que acaba por perder a graça após algum tempo, o que leva a novas apropriações. O risco, mesmo nesses casos, é apenas de contusões leves. Dificilmente as crianças se ferem gravemente, já que a tábua está muito próxima do solo. Pode-se ainda pedir para que alguém empurre, com o que se vai mais longe, sempre para frente e para trás, sem nunca sair do lugar.
Alguns balanços são mais sofisticados: têm quatro correntes e um assento mais confortável. Outros, mais toscos, são feitos de pneus e cordas. O balanço do CAHIS é do tipo sofisticado. Ele é composto de 12 cadeirinhas que acomodam as bundinhas de nossas crianças. Ao lado de outros nove companheiros, sentamos no balanço há alguns meses. A maioria das crianças parece se divertir bastante com o prazer infantil de se sentir num vôo livre quando, na verdade, não saem do lugar e repetem sempre o mesmo movimento, acomodando a bunda em estruturas metálicas que há muito estão enferrujadas. Algumas vezes nossas crianças brincam em pé nos assentos, sentem-se mais altas, mais destemidas. Também é muito comum que apareçam colegas dispostos a dar um empurrãozinho, para que o vôo seja um pouco maior, o que aumenta a sensação de liberdade e faz com que os pequenos se sintam ainda mais corajosos.
O balanço do CAHIS se localiza num parquinho, ao lado de tantos outros brinquedos desse e de outros tipos. São gira-giras, gangorras, escorregadores, trepa-trepas, e canteiros de areia, onde os pequenos gostam de construir castelos e mesmo verdadeiros reinos. Assim eles se imaginam reis absolutos, comandando súditos da forma mais justa, recebendo os aplausos de todo o povo. Um povo que inventam com muita imaginação, já que imaginar é um dom que as crianças geralmente possuem.
A maioria dos brinquedos do parquinho já não funcionam como antigamente. Esse é infelizmente o caso do balanço. Mesmo com os remendos e reforços, já é possível pressentir o rompimento das correntes. Enquanto eles se divertem indo e vindo, o que nos interessa é saber o que fazer com a sucata. Correntes e tubos de metal podem ser boas armas. A inocência infantil, porém, só permite a essas dóceis criaturas ver em tubos e correntes um aconchegante balanço.
André “Godinho” – O U.F.R.




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Futebol e Autonomia: uma leitura dialético-existencialista pós-estruturalista boleira

(Texto da Esquerda Boleira para a "Copa Autonomia", Março de 2007)

"Marquem o homem. A bola sem o homem não é nada!!!" Jean Paul Sartre (15/07/1966, segundo tempo de Uruguai 2 x 1 França, pela Copa do Mundo. Estádio de White City, Londres.)
Futebol e Existência - Para a Esquerda Boleira, o futebol é uma prática social fundada em uma concepção materialista e existencialista do mundo. Karl Marx, que conheceu o futebol na Inglaterra, dizia que "os homens fazem o futebol, mas jamais o fazem com querem", inaugurando assim uma extensa tradição político-boleira que interpreta a práxis nas quatro linhas como a dialética entre ação humana e condições históricas. Uma leitura existencialista da prática boleira leva-nos a perceber ainda mais o papel do ser humano e o caráter existencial do futebol. Sartre deixou claro em " A Bola e o Nada: Para Uma Fenomenologia do Futebol Arte", que o futebol transcende a contingência apenas quando reconhece a existência do boleiro para além das estruturas técnicas, jurídicas e táticas.

Futebol e Sociedade Disciplinar - Para a Esquerda Boleira, o futebol não deve ser um esporte! O esporte é a normatização de práticas rituais e lúdicas de natureza muito diversa. Antes de existirem regras, juízes e fair play existia algo muito mais rico como experiência existencial e que, no processo de disciplinarização do lazer e do ócio foi transformado em atividade formadora, reguladora, classificadora e hierarquizadora dos corpos. Como prática recreativa, foi instrumento do avanço disciplinador sobre o tempo ocioso, que preparava os corpos para o trabalho e as mentes para a ideologia competitiva. Não é possível defender autonomia com relação ao mercado ou ao Estado sem uma crítica da disciplina e competitividade inerentes à concepção de esporte!

Futebol, Mercado e Estados Nacionais – Para a Esquerda Boleira, além de determinado por estruturas que tentam anular a existência e instrumentalizado para a normatização das práticas humanas, o futebol como esporte têm servido ainda a interesses imediatos. Trata-se da unidade, mistificada em oposição, entre mercado e Estado, com suas diversas apropriações do futebol. Das pretensões propagandistas dos governos aos patrocínios e concessões de transmissão e daí para os álbuns de figurinhas da Copa do Mundo, o fundo de experiência criadora e existencial é perdido no fetiche dos produtos que a ela se remetem. Defendemos, portanto, um futebol que não é esporte, não é mercadoria, não é instrumento de afirmação nacional, mas é, isso sim, uma experiência viva da dialética entre materialidade e existência.

A questão da autonomia – Entendida a nossa concepção de futebol, percebemos a autonomia como o tempo no qual um jogador consegue manter-se em quadra com dada quantidade de combustível, segundo a seguinte tabela:
1 garrafa de cerveja = 5 minutos de autonomia
2 garrafas = 10 minutos de autonomia
meio engradado = 3 segundos de autonomia.

A Esquerda Boleira defende, portanto, o princípio da autonomia no futebol. Garantimos ainda que cada jogador da equipe terá em mente cerca de 3 segundos (ou meio engradado) de autonomia nos jogos da Copa.

"Dois pés esquerdos: glória à Esquerda Boleira"


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Para que a (des)ocupação seja um ato político ou como vencer um burocrata

(Texto distribuído na Assembléia dos Estudantes da USP, na qual se decidiu pela desocupação da Reitoria, após o recuo do Governo do Estado quanto aos decretos, junho de 2007. Ainda que não seja um texto propriamente da Chapa de 2006, foi um desdobramento dela)
Conhecemos o processo pelo qual as formas de luta tradicionais foram aos poucos institucionalizadas e mesmo regulamentadas, perdendo assim sua combatividade. Não descartamos o uso ou negamos a eficiência desses meios de luta, porém, suas vantagens e suas limitações são conhecidas tanto por aqueles que os usam para suas reivindicações quanto para aqueles que os querem domesticar. Nesse momento se faz necessário também o uso de formas de luta e de resistência inovadoras, que sejam capazes de criar formas de pressão e negociação que desconcerte aqueles contra quem nos colocamos. Novas formas de agir necessitam de novas formas de reagir, o que não ocorre necessariamente de imediato. A repressão (que não se resume a repressão policial ou institucional) é eficiente apenas quando a luta e a resistência já são conhecidas e claramente mapeadas. No hiato entre a ação nova e a repressão conseguimos agir livremente e é daí que vem a necessidade de que esse hiato seja, na medida do possível, constantemente criado e recriado.
A Ocupação da Reitoria da USP foi um acontecimento que rompeu com mecanismos políticos conhecidos, institucionalizados e incorporados a procedimentos burocráticos. Nesse momento, foi criado um ato desconcertante para o governo do Estado, para a burocracia universitária e para os meios de comunicação. A partir do momento em que rompemos com o contínuo, a tendência é que sejamos interpretados e entendidos, assim como ocorreu com as formas de luta amplamente utilizadas. Quando se cria um conhecimento a respeito do funcionamento de um movimento, os pontos fracos e os fortes dele podem ser estudados e assim mais eficientemente combatidos e controlados das mais diversas formas. A capacidade de criar o novo, nos dá o trunfo de conseguir escapar às práticas combativas que já têm suas vantagens e seus limites conhecidos por todos. Nós temos a capacidade de mudar rapidamente, enquanto as instituições burocráticas estão presas a uma estrutura de lenta adaptação cujos procedimentos somos capazes de reconhecer e assim combater.
Além de ser uma ruptura com relação às lógicas tradicionais - e talvez por isso mesmo! - a Ocupação levou a um amplo debate a respeito da autonomia, mas também acerca das condições internas da instituição e, mais ainda, sobre a função social da universidade pública. Além disso, o ato acaba de conquistar uma vitória parcial, mas significativa para os estudantes da USP e para a sociedade em geral. Uma vitória que garante a manutenção das potencialidades da Universidade frente aos poderes externos, mas que não garante o cumprimento de demandas históricas dos estudantes, relacionadas, sobretudo, com as condições de acesso e permanência e com a democracia no interior da USP.
Assim, passado o momento político do ato desconcertante iniciado em 3 de maio devemos propor um outro algo novo, que quebre uma vez mais a ordem supostamente natural das coisas, não só mantendo, mas ampliando as possibilidades de atingir nossos objetivos, expostos tantas vezes nas negociações durante a Ocupação. Como primeiro movimento, a desocupação da reitoria deve ser um ato político que se manifeste de uma forma a quebrar com as expectativas e a garantir a continuidade da luta por outros meios. Ela deve ocorrer somente com a perspectiva de que a pauta seja mantida e alcançada por meios tão impactantes como foi a Ocupação da Reitoria, aliados aos meios já consagrados pela luta estudantil. A nossa luta agora é no interior da universidade cuja autonomia, frente ao Estado, acabamos de garantir.
Sendo assim, propomos à Assembléia dos Estudantes da USP:
- A continuidade da luta pelas pautas estudantis já apresentadas
- A continuidade da greve
- Um ato criativo que deixe claro o caráter político da desocupação da Reitoria
- A criação de novas formas de luta que sejam igualmente desconcertantes para a burocracia universitária
- A utilização estratégica dos espaços universitários da USP na construção do movimento

Coligação (des)ocupa – Liga Marxista-Ocupista e Aliança Niilista-Desocupista





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